A Singularidade de Esquerda

O inverno está chegando

Os esquerdistas não são perturbados pelo medo de que as massas possam se revoltar contra a esquerda, mas sim cada esquerdista teme que ele possa falhar em acompanhar a linha que sempre muda, se encontre alguns anos, ou semanas, ou dias atrás do atual politicamente correto sempre em mudança e se descubra considerado um direitista. // O que historicamente só para em derramamento de sangue. Não há nenhuma singularidade de direita equivalente, já que regimes repressivos de direita proíbem o interesse na política, ao passo em que os regimes repressivos de esquerda ordenam o interesse na política. // A singularidade de esquerda é a mesma toda vez em sua aproximação ao esquerdismo infinito, mas difere de maneira caótica e surpreendente toda vez ao acabar aquém do esquerdismo infinito — James A. Donald

Aquilo com o que mais nos preocupamos é que veremos um ciclo vicioso se desenvolver: uma governança ruim prejudica a economia, o que radicaliza e polariza a opinião pública, o que leva a uma governança pior e resultados econômicos piores… e assim por diante linha abaixo.Walter Russell Mead

A política do século XXI não vê nenhuma necessidade da verdade. Quando o governo se acredita responsável pela economia e convence as pessoas disso, ele tem que se colocar em uma caixa. …Quando uma recessão ocorre …ela faz com o governo busque política que reforçam suas mentiras. São essa política que criaram a atual crise econômica em primeiro lugar. –’Monty Pelerin‘ (via Zero Hedge)

O Iluminismo Sombrio começa com o reconhecimento de que a realidade é impopular, de modo que o curso ‘natural’ do desenvolvimento político, sob condições democráticas, é confiavelmente embasado na promessa de uma alternativa. Favorecer a fantasia é a única plataforma que oferece apoio eleitoral. Quando os sonhos ficam ruins, é politicamente óbvio que eles não foram mantidos com firmeza ou sinceridade suficientes, seu radicalismo foi insuficiente, e uma solução mais abrangente é imperativa. Uma vez que uma sabotagem direitista, seja ela deliberada ou meramente inercial, claramente é a culpada, as surras continuarão até que o moral melhore.

Esta síndrome, essencialmente indistinguível da modernidade política, exige uma teoria cibernética da deterioração social acelerante, ou repressão econômica auto-reforçadora. A tendência da qual o iluminismo sombrio recua exige uma explicação, que é encontrada no diagrama da Singularidade de Esquerda.

Uma singularidade, de qualquer tipo, é o limite de um processo dominado por um feedback positivo e, assim, levado a um extremo. Em sua expressão matemática pura, a tendência não é meramente exponencial, mas parabólica, fechando-se assintoticamente sobre o infinito em tempo finito. A ‘lógica da histórica’ converge sobre um limite absoluto, além do qual um prolongamento adicional é estritamente impossível. Desta barreira derradeira e impassável, o iluminismo sombrio regride na história política, profeticamente inflamado por sua certeza do fim. A menos que a democracia se desintegre antes da parede, ela vai dar de cara com a parede.

“Uma repressão maior traz um esquerdismo maior, um esquerdismo maior traz uma repressão maior, em um círculo cada vez mais cerrado que gira cada vez mais rápido. Esta é a singularidade de esquerda”, escreve Donald. A principal hipótese sombria é evidente: no declive da esquerda, a falha não é auto-corretiva, mas sim o oposto. A disfunção se aprofunda através do circuito do desapontamento:

Conforme a sociedade se move cada vez mais para a esquerda, cada vez mais rápido, os esquerdistas ficam cada vez mais descontentes com o resultado, mas, claro, a única cura para o seu descontentamento que é permissível pensar é um movimento ainda mais rápido, ainda mais à esquerda.

É necessário, então, aceitar a inversão esquerdista de Clausewitz e a proposição de que a política é a guerra por outros meios, precisamente porque ela retém a tendência ao extremo clausewitziana (que a torna ‘propensa a escalada‘). Esta é a razão pela qual a história política moderna tem uma forma característica, que combina uma duração de ‘progresso’ escalonante com uma interrupção terminal e semi-pontual, ou catástrofe – uma restauração ou ‘reinicialização’. Como mofo em uma placa de Petri, organizações políticas progressistas ‘se desenvolvem’ explosivamente até que todos os recursos disponíveis tenham sido consumidos, mas, ao contrário de colônias de lodo, elas exibem um dinamismo que ainda mais exagerado (do exponencial para o hiperbólico) pelo fato de que o esgotamento de recursos acelera a tendência de desenvolvimento.

A decadência econômica erode o potencial produtivo e aumenta a dependência, atando populações de maneira cada vez mais desesperada à promessa de uma solução política. O declive progressista fica mais íngreme na direção do precipício de uma radicalidade suprema, ou total absorção no estado… e, em algum lugar fracionalmente antes disso, seja antes ou depois dele ter roubado tudo que você tem, tomado seus filhos, desencadeado assassinatos em massa e descendido ao canibalismo, ele acaba.

Ele não pode comer a placa de Petri ou abolir a realidade (na realidade). Há um limite. Mas a humanidade ganha uma chance de demonstrar do que é capaz, no lado inferior. Como Whiskey comentou (nessa thread do Sailer): “Este Iluminismo é ‘Sombrio’ porque ele nos diz coisas verdadeira que preferiríamos não saber ou ler ou ouvir, porque elas pintam uma imagem não tão amável da natureza humana em sua face mais crua”. O progresso nos leva ao cru.

Gregory Bateson se referia à escalada cibernética como ‘esquismogenese’, que ele identificava em uma série de fenômenos sociais. Entre esses estava o abuso de substâncias (especificamente o alcoolismo), cuja dinâmica abstrata, no nível do indivíduo, é difícil de distinguir da radicalização política coletiva. O alcoólatra é capturado por um circuito esquismogenico e, uma vez que esteja dentro dele, a única solução atraente é ir mais fundo nele. A cada passo de desintegração de sua vida, ele precisa de um drinque mais do que nunca. Lá se vai o emprego, a poupança, a esposa e as crianças, e não há nenhum lugar onde se procurar esperança exceto o bar, a garrafa de vodka e, eventualmente, aquela lata irresistível de cera para piso. O escape vem – se vier antes do necrotério – ao ‘chegar ao fundo do poço’. A escalada ao extremo chega ao fim da estrada, ou da estória, onde uma outra poderia – possivelmente – começar. A esquismogenese prevê uma catástrofe.

Chegar ao fundo do poço tem que ser horrível. Uma longa história lhe trouxe a isso e, se isso não é óbvia e indisputavelmente um estado intolerável de degradação derradeira, ela vai continuar. Não acabou até que realmente não possa continuar, e isso tem que ser diversos graus pior do que se poderia antecipar. A Singularidade de Esquerda está afundada nas borras de cera para piso, com tudo perdido. É pior do que qualquer coisa que você possa imaginar, e não há nenhum sentido que seja em tentar persuadir as pessoas de que elas chegaram lá antes de elas saberem que chegaram. ‘As coisas poderiam ser melhores do que isso’ não vai dar conta. É para isso que serve o progresso, e o progresso é o problema.

Aquilo que não pode continuar, irá parar. As árvores não crescem até o céu. Isso não significa necessariamente, contudo, que a liberdade será restaurada e tudo será adorável. Da última vez tivemos teocracia, tivemos estagnação por quatrocentos anos.

A expansão explosiva de gastos e regulamentação representa um colapso da disciplina dentro da elite governante. A maneira em que o sistema deveria funcionar, e a maneira em que funcionou na maior parte do tempo há várias décadas atrás, é que o Governo Federal americano só pode gastar dinheiro em algo se a Câmara dos Deputados, o Senado e o Presidente concordarem em gastar dinheiro nessa coisa, então nenhum empregado do governo pode ser empregado, exceto se todos os três concordarem que ele deva ser empregado, então o governo não pode fazer nada ao menos que os três concordem que seja feito. Um funcionário público e, na verdade, todo o seu departamento estava apto a ser demitido se irritasse alguém. Reciprocamente, o indivíduo estava livre para fazer qualquer coisa, a menos que todos os três concordassem que ele deveria ser impedido de fazer aquela coisa. Estamos agora nos aproximando da situação reversa, onde para um indivíduo fazer qualquer coisa é necessário uma pilha de permissões de diversas autoridades governamentais, mas qualquer autoridade governamental pode gastar dinheiro em qualquer coisa a menos que exista uma oposição quase unânime a ela gastar dinheiro.

Obviamente isso não pode continuar. Eventualmente, o dinheiro acaba, onde teremos uma crise hiperinflacionária e reverteremos para alguma outra forma de dinheiro, como o padrão ouro. Enquanto isso acontece, o comportamento cada vez mais sem lei dos governantes contra os governados se tornará um comportamento cada vez mais sem lei dos governantes uns contra os outros. Guerra civil, ou algum próximo de uma guerra civil, ou uma terrível e imediata ameaça de guerra civil se seguirá. Nesse ponto, teremos a singularidade política, provavelmente por volta de 2025 ou algo assim. Para além da singularidade, nenhuma previsão pode ser feita, além de que os resultados serão surpreendentes…

Original.

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